“Um jovem casal retorna para a sua terra de origem, no interior do Espírito Santo, numa jornada por entre florestas e montanhas repletas de mistérios, lendas e belezas naturais. Lá reencontram os parentes transtornados pela morte misteriosa de todos os animais da fazenda e os velhos conflitos que desde o passado atormentam duas famílias rivais. Os irmãos Silva estão cada vez mais certos da vingança planejada pelos Carvalho, porém, o pai sabe que algo muito mais sinistro se esconde na mata. As famílias em guerra, se deparam com um mal maior do que eles podem mensurar. Entre brigas, perseguições, caçadas e muitos tiros, a mítica figura do Chupacabras apresenta pela primeira vez sua face assassina”.
Segundo longa-metragem do cineasta capixaba Rodrigo Aragão, “A Noite do Chupacabras” (2011) é a prova concreta de que o Brasil pode (e consegue!) fazer filmes de gênero com respeito e qualidade. Desde a sua estréia com o divertidíssimo “Mangue Negro” (2008), que mostrou que existe a possibilidade de se criar filmes de zumbis com “temperos” tipicamente brasileiros o capixaba não descansou em sua luta a favor do cinema auto-sustentável e o resultado deste esforço lhe valeu o prêmio de efeitos especiais e melhor novo diretor fantástico de Santiago, no Chile. O filme também recebeu o Prêmio Audiência do Rojo Sangre, na Argentina, e fez parte da seleção oficial do Sci Fi London. Em seu novo trabalho, toda a aura de humor trash fortemente enraizada em Mangue Negro foi substituída por uma atmosfera claustrofóbica, crua e violenta. Os personagens que antes nos cativaram pela simplicidade e inocência agora nos apavoram pela selvageria e violência. Entre as desavenças dos Silva (brilhantemente interpretados por Markus Konká, Margo Benatti, Joel Caetano, Jorgemar de Oliveira, Alzir Vaillant e Ricardo Araújo) e dos Carvalho (assustadoramente interpretados por Margareth Galvão, Reginaldo Secundo, Foca Magalhães, Raul Lorza, Fonzo Squizzo e Petter Baiestorf) a própria criatura que dá nome ao filme fica em segundo plano perante a selvageria dos dois grupos, demonstrando que o Homem é o mais apavorante e sanguinário dos monstros.
Como o filme ainda não foi exibido aqui em Sampa fica difícil falar mais sobre a trama sem soltar alguns spoilers, mas o que posso adiantar é que as cenas da guerra entre os Silva e os Carvalho são épicas e cheias de surpresas. As atuações de Joel Caetano e Petter Baiestorf ficaram homéricas. A polidez do “homem da cidade” em contraste com a rudeza do homem do campo foi explorada maravilhosamente nos personagens Douglas e Ivan. Além do incrível profissionalismo (não sei se dos atores ou da direção) até os personagens secundárias da trama nos trazem momentos de medo e apreensão. Como exemplo destaco a atuação de Margareth Galvão como a matriarca dos Carvalho (que em poucos minutos de aparição me causou calafrios!) e de Cristian Verardi, que interpreta um dos terrores da minha infância...hehehehe. Outro personagem também digno de nota é o de Alzir (um dos irmãos Silva), que teve seu raciocínio afetado por causa de severas lesões na cabeça e que, interpretado por Alzir Vaillant, amalgamou-se com seu irmão cadeirante Ricardo Araújo, unindo a força bruta com a inteligência e tornando-se, de certa forma, um só corpo. Outra coisa que também chamou a atenção foi o fato das duas histórias criadas pela Fábulas Negras (Mangue Negro e A Noite dos Chupacabras) assumirem uma espécie de simbiose, onde os personagens de um filme comentam sobre os personagens do outro. Uma sacada super inteligente de Rodrigo Aragão para aproximar o espectador da mitologia criada para o andamento de seus personagens em seus trabalhos futuros.
Apesar dos humanos serem o maior foco de maldade na trama o tenebroso Chupacabras também demonstrou que também pode arrancar (além de intestinos) grandes sustos da platéia. Em uma recente entrevista, Aragão explicou um pouco sobre a composição da criatura: "Demorou oito meses de estudos e testes com diversos materiais - entre eles a espuma de poliuretano, silicone e látex -, até que encontrei uma fórmula de uma espuma de látex, leve, elástica e resistente o suficiente para dar ao ator a liberdade de movimento necessária para o personagem. Pegamos um molde de corpo inteiro do Walderrama dos Santos (ator que interpreta o monstro) e modelamos a criatura, com mais de 70 chifres". Outra coisa muito elogiada nos festivais foi a música incidental, que explorou a diversidade de ritmos e estilos que dão o tom regionalista de bandas capixabas como Pé do Lixo, Banda de Congo Panela de Barro de Goiabeiras, Grupo Manguerê, e, revisitação das composições do saudoso Jaceguay Lins, regida pelo maestro Helder Trefzger, executada pela Orquestra Filarmônica do Espírito Santo. A participação da banda goiana Vida Seca, trouxe batuques pesados do Centro do país para complementar este festival de estilos.
De acordo com o diretor Rodrigo Aragão, seus filmes estão sendo trabalhados numa espécie de "trilogia" que focaliza três ecossistemas diferentes: mangue (Mangue Negro), montanhas com florestas (A Noite do Chupacabras) e praia (Mar Negro, título provisório do próximo filme).
O DVD de "A Noite do Chupacabras" está para ser lançado até o final do ano, mas antes disso pôde ser visto em festivais nacionais como RioFan e ...Ou Tudo Trash, no Rio de Janeiro, Fantaspoa, em Porto Alegre e internacionais como Rojo Sangre na Argentina, Zinema Zombie Fest, na Colômbia e Fixion-SARS, no Chile, onde recebeu menção honrosa pelos trabalhos de maquiagem e trilha musical além de figurar no site da Fangoria, uma das mais conceituadas revistas do gênero. Aos fãs do trabalho do capixaba mais pôrralouca que conheci e que moram em São Paulo fica a dica. O filme será exibido na Mostra Competitiva de Longas no 6° Cinefantasy, que terá início no dia 22 de novembro com a presença do realizador Rodrigo Aragão, que também ministrará um curso de maquiagem e efeitos especiais de horror no evento.
Em suma, com uma trajetória de sucesso, o filme “A Noite do Chupacabras” vem para consolidar a carreira de um dos mais promissores cineastas da nova safra do cinema de gênero brasileiro que, assim como todos os verdadeiros fãs do cinema de horror preza pelo amor ao gênero e não somente pelo retorno financeiro de suas produções.
Ficha Técnica
Título: A Noite do Chupacabras
Ano: 2011
País de Origem: Brasil
Gênero: horror
Direção: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Produção: Kika Oliveira, Mayra Alarcón
Produção executiva: Hermann Pidner
Edição: Rodrigo Aragão
Produção de set: Kika Oliveira, Mayra Alarcón, Ana Carolina Braga
Fotografia: Secundo Rezende
Figurino: Mayra Alarcón
Efeitos especiais: Rodrigo Aragão, Murilo Ribeiro
Edição musical, sonoplastia e mixagem: Hermano Pidner
Elenco:
Afonso Abreu
Alzir Vaillant
Cristian Verardi
Eduardo Moraes
Foca Magalhães
Fonzo Squizzo
Hermann Pidner
Joel Caetano
Jorgemar de Oliveira
Kika Oliveira
Markus Konká
Margareth Galvão
Margo Benatti
Mayra Alarcón
Milena Zacché
Petter Baiestorf
Raul Lorza
Ricardo Araújo
Walderrama dos Santos
Site oficial: http://www.fabulasnegras.com/ANoiteDoChupacabras.aspx
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